quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Seu avô: o suserano

Seu avô: o suserano

A nossa família se organiza mais ou menos como um Estado. Estamos em fase de transição para o capitalismo. Nos tempos de Seu Avô vivíamos na ordem feudal. Seu Avô, o grande suserano, governava a casa com a firmeza e ternura de um pai, extremamente autoritário e generoso, ensinou-nos a importância de manter a unidade entre os clãs. Isso porque somos unidos nem sempre pelos laços de sangue, mas pelos do amor.

Quando vó Judi era viva todos recorriam a ela, o pedreiro de Seu Avô, a lavadeira da casa, até as amantes deste, uma vez abandonadas por ele, levavam à porta de vó Judi, filhos que ela criava "como se fossem seus".

Não se pode dizer que vó Judi tratasse de forma homogênea sua prole, fazia distinção. Tinha uma acentuada preferência por alguns filhos, ilegítimos, ao que deixava tia Marília(único fruto de seu ventre) enciumada. Vó Judite pôs todos na escola. Tia Julia, filha da amante de Seu Avô, era a mais aplicada nos estudos, razão pela qual ficava isenta dos serviços domésticos.

Tia Carmem sempre maternal, cuidava de todos, estava claro que iria suceder vovó.

Mamãe e Tia Clarisse, ambas belas, mas travessas e namoradeiras davam muito trabalho, resultado tornaram-se o proletariado na nova ordem familiar. Tio Celsinho, sonso desde moço, porém trabalhador e estudioso, não deu-se inteiramente mal com o capitalismo. Agora o leitor deve estar a perguntar-se:

Por que ela não chama seu avô de meu?

Calma leitor era assim, meus primos diziam: ´´Seu avô pediu isso, Seu avô quer aquilo, nunca, meu avô".

Milena Bastos

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